“1917” (2019), dirigido por Sam Mendes, é um aclamado filme de guerra que transporta o espectador para os horrores da Primeira Guerra Mundial de uma maneira única e imersiva. A trama segue dois jovens soldados britânicos, Blake e Schofield, enquanto eles enfrentam uma missão quase impossível: entregar uma mensagem urgente que pode salvar centenas de vidas.
O que torna “1917” tão especial não é apenas a narrativa envolvente, mas sua técnica cinematográfica inovadora. A película foi filmada para parecer uma sequência contínua, sem cortes perceptíveis, o que intensifica a tensão e a sensação de urgência.
Com uma produção detalhada e atuações intensas, “1917” não só se destaca como um marco no cinema de guerra, mas também oferece uma nova perspectiva sobre o sacrifício, a coragem e o caos da guerra. Neste texto, exploraremos algumas curiosidades fascinantes sobre a produção e o impacto do filme.
1 – O DESAFIADOR PLANO-SEQUÊNCIA
O aspecto mais impressionante da produção de “1917” é a maneira como a filmagem foi realizada. Embora o enredo do filme seja fascinante, o que realmente chama a atenção é o uso da técnica de plano-sequência — uma filmagem sem cortes — que proporciona uma sensação de imersão.
“Desde o início, senti que este filme deveria ser contado em tempo real. A cada passo da jornada, respirando junto com esses homens, era fundamental. E a maneira mais eficaz de fazer isso é com uma filmagem contínua”, comenta o diretor Sam Mendes em um vídeo promocional, explicando o processo de filmagem.
As câmeras seguiam os atores enquanto caminhavam, andavam de carro ou se moviam por cenários improvisados, mantendo a filmagem sincronizada com tudo o que faziam. “Foi feito para dar a sensação de que você está dentro das trincheiras com os personagens”, afirma a produtora Pippa Harris.
Outro grande desafio da equipe foi filmar em ambientes externos, sempre em terrenos diferentes. A produção teve que cavar 1,5 quilômetros de trincheiras e espalhar sinais para avisar que os corpos realistas enterrados na lama eram apenas bonecos. A maioria das cenas foi filmada em Salisbury Plain, no centro da Inglaterra.
Vale destacar que o filme possui apenas um corte, que ocorre quando um dos soldados perde a consciência e a noção do tempo. A cena, que começa durante o dia, segue até a noite.
2 – O DIRETOR DEDICOU O FILME AO SEU AVÔ
Sam Mendes dedica “1917” a seu avô, Alfred H. Mendes, que combateu ao lado dos Aliados na Primeira Guerra Mundial. A inspiração para o filme vem das histórias que ele costumava contar aos netos, além de sua biografia, publicada após sua morte.
O cenário da guerra que os soldados enfrentam é inspirado na Operação Alberich, realizada entre 9 de fevereiro e 15 de março de 1917. Os britânicos chamam essa operação de retirada alemã para a Linha de Hindenburg, e o filme retrata momentos em que os soldados britânicos chegam a trincheiras sofisticadas abandonadas pelos alemães. Apesar disso, a data mostrada no início do filme — 6 de abril de 1917 — marca o dia em que os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha, um apoio crucial para a vitória dos Aliados (embora o filme não chegue a explorar esse evento).
Os dois protagonistas do filme foram inspirados na personalidade do avô de Sam Mendes, que se alistou aos 19 anos, lutou pela Grã-Bretanha na Primeira Guerra e recebeu medalhas por suas ações, incluindo a entrega de mensagens importantes a batalhões isolados.
Foi em território francês que o avô do diretor também se apaixonou por uma mulher francesa, Lucille, a única mulher adulta a aparecer no filme (ela está acompanhada de um bebê). O filme contém várias homenagens discretas ao avô de Mendes, desde as medalhas e a referência ao grande amor dele, Lucille, até a mensagem final dedicada ao herói de guerra, que faleceu em 1991, aos 93 anos.
3 – OS DOIS PROTAGONISTAS SÃO PERSONAGENS FICTÍCIOS
É importante destacar que os dois protagonistas do filme são personagens fictícios. A trama real de “1917” revela que, no melhor cenário, o personagem de Dean-Charles Chapman, Blake, foi levemente inspirado no avô de Mendes. Já o amigo de Blake no filme, Schofield, também pode ter uma conexão remota com as vivências de Alfred durante a guerra, mas nenhum dos personagens tem uma base direta nele.
Além disso, os personagens coadjuvantes do filme, como o oficial comandante interpretado por Colin Firth e as figuras de Benedict Cumberbatch (coronel Mackenzie), Richard Madden (tenente Joseph Blake) e Mark Strong (capitão Smith) são igualmente fictícios.
4 – OPERAÇÃO ALBERICH
Uma das principais referências históricas no filme é a Operação Alberich, uma retirada estratégica das forças alemãs que ocorreu entre fevereiro e março de 1917, conforme relatado pela revista Superinteressante.
Essa operação consistiu no movimento de tropas e civis alemães da região norte da França para a Linha Hindenburg, uma linha de defesa fortificada que oferecia melhores condições para enfrentar os Aliados.
A operação seguiu a estratégia de “terra arrasada”, em que os alemães destruíram infraestrutura e recursos para dificultar a vida dos inimigos. O filme recria o ambiente tenso e desolador desse período histórico, refletindo as dificuldades e os desafios enfrentados na época.
5 – A TERCEIRA BATALHA
De acordo com o site History and Hollywood, o combate mais significativo retratado no filme pode ter sido inspirado na batalha de Passchendaele, também chamada de terceira batalha de Ypres, que ocorreu entre 31 de julho e 10 de novembro de 1917. Ambos os lados, britânicos e alemães, sofreram grandes perdas. O confronto terminou com o exército alemão sendo paralisado em Flandres, enfrentando baixas insustentáveis.
Ainda segundo o portal, o avô do diretor, Alfred H. Mendes, esteve presente nessa batalha, e seu batalhão sofreu severas perdas enquanto tentava capturar a vila de Poelcappelle dos alemães.
6 – O SOM TEVE UM PAPEL CRUCIAL NO FILME
O som desempenha um papel crucial em “1917”, não apenas como um complemento à ação, mas como um elemento essencial na construção da tensão. O filme usa a dinâmica sonora de forma impressionante, desde os sons estrondosos das explosões até os detalhes mais sutis, como o som das botas dos soldados no terreno.
A trilha sonora, composta por Thomas Newman, também foi projetada para criar uma atmosfera emocional única. O som intensifica as emoções de medo, suspense e desespero, e o uso estratégico de pausas e ruídos enfatiza o caos e a solidão dos personagens.
7 – PRÊMIOS E BILHETERIA
O filme foi muito aclamado por público e crítica, ganhando vários prêmios. No Globo de Ouro, ele recebeu 3 indicações, vencendo Melhor Filme de Drama e Melhor Diretor. E no Oscar, o filme recebeu 10 indicações, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. Ganhou Melhor Cinematografia, Melhor Mixagem de Som e Melhores Efeitos Visuais.
Nas bilheterias também não decepcionou. O filme “1917” teve um orçamento salgado de US$100 milhões e conseguiu faturar US$384,9 milhões em todo o mundo.
CONCLUSÃO
Em conclusão, “1917” se destaca como uma obra cinematográfica marcante, não apenas pela sua narrativa intensa, mas também pela impressionante técnica de filmagem que imita uma única tomada contínua. A habilidade de Sam Mendes, aliada ao trabalho preciso de Roger Deakins, cria uma imersão única que transporta o público para a Primeira Guerra Mundial de forma visceral e realista.
O filme consegue capturar a tensão e a angustiante solidão dos personagens enquanto exploram o desespero e a coragem no contexto de um conflito imenso. Além disso, “1917” reflete a complexidade emocional dos soldados e o impacto da guerra sobre os indivíduos, longe das grandes batalhas épicas, focando na luta pela sobrevivência.
Ao juntar elementos visuais inovadores com uma história profunda e relevante, “1917” se consagra como um dos filmes mais notáveis da sua década, tanto em termos técnicos quanto narrativos.
